Bioenergética Reichiana

por Beatriz De Patta

A abordagem Bioenergética tem dois princípios fundamentais: 1. concebe o ser humano de forma integrada, na qual as dimensões física, mental e emocional constituem-se em aspectos intrinsecamente relacionados; 2. entende e trata o ser humano a partir do funcionamento de sua energia vital - denominada bioenergia ou orgone, que seria a dimensão/síntese das demais.
Portanto, para a Bioenergética não existe nenhuma disfunção ou patologia que seja somente física, ou exclusivamente mental. Qualquer doença ou disfunção sempre tem também um componente emocional envolvido.
Sob esta ótica, disfunções oculares, como a miopia ou o astigmatismo, por exemplo, não são somente problemas dos olhos, mas formas particulares de ver o mundo, decorrentes de adaptações, de defesas que tivemos que construir para sobreviver.
Neste texto tentarei apresentar, de forma sucinta, um pouco desta "visão'energética sobre os olhos e o olhar. Limitarei meu campo às funções expressivas e de contato da visão.


OLHOS NOS OLHOS

"Olha bem nos meus olhos/quando falo contigo/e vê tanto coisas/que eles dizem, que não digo".
Todos sabem, e os poetas não se cansam de cantar, a singular linguagem que possuem os nossos olhos. Quem não ouviu alguém contar "minha mãe nem precisava falar nada, ela olhava pra mim e eu já sabia o que tinha que fazer... "? As crianças, por terem o olhar solto, liberto das conveniências, são mais receptivas e participam constante e naturalmente desta conversa visual que ocorre o tempo todo entre as pessoas.
Os olhos são as partes mais expressivas de nosso corpo, as que falam mais profundamente do que acontece em nosso interior. "Janelas da alma", novamente identificaram os poetas. Além disso, são pelos olhos - assim como pelas mãos - por onde emitimos mais energia. Expressões como "mau olhado", "olho gordo", "olhar de seca pimenteira" e congêneres, estão presentes em todas as culturas, reconhecendo a força do olhar.
Mas talvez a função mais determinante para nossa forma de estar no mundo seja a de contato. É fundamentalmente pelos olhos que estabelecemos relação, ou não, com as outras pessoas. Desde a mais tenra idade o bebê faz contato com sua mãe e as pessoas em volta através dos olhos. A qualidade desses primeiros contatos pode determinar como aquele ser passará a ver o mundo, a vida. E mais, a partir destas experiências pode começar a estabelecer uma disfunção, uma patologia ocular, que, como veremos, não é só ocular, mas uma postura integral, uma maneira característica de estar na vida.


EXPERIÊNCIAS MATRIZES

O bebê, quando está mamando, normalmente intercala seu olhar entre o bico do seio e os olhos da mãe. Se ao olhar para ela encontra olhos receptivos, felizes, emanando amor e segurança, a criança sentirá prazer e confiança. Se sentirá incentivada a olhar o mundo. Afinal, "que sensação boa eu sinto ao olhar para fora!".
Mas por outro lado, se a mãe não faz contato com seu bebê, ou se seu olhar é de raiva, ou ameaçador, ou mesmo de não aceitação (muitas vezes inconsciente), a criança sente esta qualidade aversiva e, para se proteger, sai do contato ocular. Isto acontece basicamente por duas vias: uma, fugindo do contato para um ponto distante; outra, se ensimesmando.
Na primeira reação, ao se defrontar com um olhar materno amedrontador, ou por não encontrar seu olhar, a criança ultrapassa os olhos da mãe e faz foco num ponto no teto. A continua repetição desta situação instaura uma maneira da criança olhar. Ela passa a se especializar em olhar o longe, o distante. É uma das origens da hipermetropia.
A hipermetropia, na verdade, como todas as outras disfunções oculares, não é um "problema" só dos olhos, mas uma forma que encontramos para nos defender das ameaças do mundo. Podemos dizer até que a hipermetropia traduz uma maneira de estar na vida. Geralmente, o hipermétrope é mais extrovertido, planejador, esperançoso de encontrar a felicidade no futuro ou em algum outro lugar, longe. Ele busca o prazer, a felicidade, num lugar distante, no tempo ou no espaço. Em última instância, ele busca a mãe num ponto distante.
Na miopia serve o mesmo exemplo: ao se defrontar com o olhar que lhe causa medo ou desprazer, ao invés de projetar o olhar para o teto, como fez a primeira criança,  bebê se ensimesma, foca a ponta do nariz e o seio materno, busca proteção em si, no seu interior. Seu lugar de conforto, seu refúgio, passa a ser os espaços próximos. Começa a desenvolver um conjunto de atitudes restritivas, auto defensivas, que nos olhos, aos poucos, vai se desenvolvendo numa miopia. Logo, os miopes não são pessoas que têm uma disfunção ocular, somente. Esta patologia expressa um modo de estar no mundo, caracterizado, por exemplo, por uma maior instrospecção, timidez, medo, auto-referenciamento, dificuldade de expansão e expressão no social.
As demais patologias oculares têm, sob a visão Bioenergética, enfoques semelhantes, decorrentes de defesas instauradas em diversos momentos de vida. Assim, astigmatismo, glaucoma, presbiopia, etc, passam a ser compreendidas com mais profundidade, incluindo o fundamental dado emocional e energético. Decorre daí uma terapêutica que também contempla o trato emocional. Os trabalhos de origem reichiana utilizam exercícios, massagens, actings terapêuticos e movimentos expressivos, que visam (e conseguem em graus surpreendentes) recuperar a qualidade da visão. Ao mudarmos nossa maneira de ver e encarar o mundo, relaxamos nossa musculatura ocular e recuperamos a funcionalidade de nossos olhos.


COMPREENDENDO E PREVENINDO

Estes exemplos mostram que o entendimento das disfunções de nosso corpo com maior amplitude e profundidade é fundamental. Quebra uma cadeia de explicações e tratamentos meramente mecanicistas, que visam somente acabar de qualquer maneira com os sintomas sem nunca alcançar e tratar as causas. A compreensão de como funciona energeticamente nosso corpo, sempre integrado com os sentimentos e emoções, nos possibilita prevenir doenças e neuroses futuras.
Já ouvi dizer que os índios se abaixam para conversar com suas crianças, e as olham sempre nos olhos. Talvez por isso eu nunca tenha visto fotos de índios com óculos (e não é por falta de acesso a oculistas, que a maioria hoje, tem). Este é um singelo ensinamento, que cada um de nós pode colocar em prática com suas crianças: sempre que puder, converse com seus filhos olhando-os em seus olhos, sem ameaças, realmente fazendo contato. Esta é a senha para que abram seus olhos sem medo, relaxem seu coração e encarem a vida de frente, com sensibilidade e coragem.

Por Ralph Viana

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